26.3.09

Como está Portugal de Graffitis

Quando no final dos anos sessenta e princípio dos 70’  alguns miúdos começaram a rabiscar as paredes das casas de banho ou o interior das carruagens do metropolitano nova-iorquino, com os seus próprios nomes ou o nome dos 'gangs' ao qual pertenciam, mal podiam saber que estavam a criar uma nova disciplina no mundo da arte. Apesar do graffiti - do grego "graphein" e do latim "graffito" (desenho ou rabisco numa superfície) - ter já referências na Roma antiga, o termo contemporâneo designa a inscrição de mensagens clandestinas, sobretudo nas paredes e no mobiliário urbano, que podem ir de simples monogramas de uma cor até composições mais elaboradas e de diferentes matizes.

Criada nos guetos americanos como demarcação de território, os graffiters logo tomaram consciência dos seus dons artísticos e passaram a retratar o quotidiano de sofrimento e violência das comunidades, a falta de oportunidades, as drogas, a opressão do sistema, etc.

A discussão sobre os graffitis centra-se em questões tais como se o graffiti é vandalismo (encarado do ponto de vista legal) ou se pode ser considerado uma forma de arte se for feito numa base legal.

Após a revolução do 25 do Abril, os murais em Portugal deixaram praticamente de ter uma conotação política e passaram a estar associados a imagens e mensagens generalistas e/ou individualistas, ou ainda chamadas de atenção para situações concretas. "Essa mensagem política perdeu-se porque se calhar também se perdeu um pouco da consciência política que caracterizava esse período", opina Odd, pseudónimo do Graffiter português.

O factor adrenalina

Ao longo dos tempos, só um aspecto se manteve inalterável nas pinturas murais, independentemente do seu género: a perseguição das autoridades - baseada, claro está, na legislação vigente - a quem não procura mais do que trazer um pouco de arte ao quotidiano cinzento das cidades. Leia o que se verificou numa noite em que surgiu o convite para acompanhar a realização de uma pintura. O cenário era um muro de quase vinte metros numa das ruas mais movimentadas do Porto, e, portanto, onde seria difícil camuflar a actividade. O grupo encontrou-se às três da manhã com elementos de um outro colectivo que tinha pintado o muro ao lado na semana anterior. O motivo era comum: chamar a atenção para a progressiva degradação de uma casa do início do século XX, que estará, ao que tudo indica, prestes a sucumbir à pressão imobiliária.

Ao todo, reunem-se para cima de vinte pessoas no pequeno largo fronteiro ao local da realização do trabalho. Cerca de metade irá vigiar as ruas circundantes de forma a poder alertar, via telemóvel, da passagem da polícia. Um dos elementos do grupo percorrerá de mota cada um dos postos de observação para garantir que nada falhe. Outros ainda vão filmar a pintura, cuja mensagem ("Um dia a cultura vem abaixo") alude ao facto de a preservação do património também poder ser uma forma de cultura.

No Porto, conta Biph, a polícia não é tão incisiva como na capital. Em Lisboa, explica, "têm um ficheiro com os murais e os nomes dos autores". A arte desenvolveu-se a tal ponto na capital que existem artistas estrangeiros a apreciar o trabalho que por lá se faz e haja quem, como o líder do partido Popular, Paulo Portas, proponha a criminalização desta actividade!

Biph", "Odd" e outro graffiter pintaram, sob encomenda do conselho directivo, uma parede lateral de um pavilhão pré-fabricado de uma escola secundária da cidade do Porto. "Foi uma sensação fantástica saber que podíamos estar à vontade e que não estávamos a fazer nada de errado".

Vejamos Graffitis em espaços urbanos portugueses - Setúbal:

setubal-1

Bowling de Cascais, Fun Center Colombo, tmn Exponor 07:

Graffiti Bowling de Cascais Teatro Parque Mayer:

Graffiti teatro Parque Mayer

Bar Sortilégio:

Graffiti Bar Sortilégio E também há os amantes de Graffiti que decoram quartos de criança!

Graffiti criança  Quartos de criança

4 comentários:

Mare Liberum disse...

Pois quem por aqui passa se não é apreciador de Garfittis vai passar a sê-lo. Os exemplos que aqui nos traz são de facto obras de arte. Eu acompanhei o "nascimento" deste tipo de arte urbana nas cidades algarvias e inicialmente, tirando os grandes murais com mensagem social e política,ela reduzia-se a rabiscos/pseudónimos de adolescentes contestatários geralmente oriundos de meios com alguma problemática socio-económica. Não todos como é óbvio. Há sempre excepções. Porém, também tenho constatado a sua evolução e continuo a defender a criação de espaços para o efeito dado o valor artístico de muitos, a criação de concursos e a possibilidade de pintar à luz do dia espaços urbanos degradados onde a cor irá certamente conferir-lhes um aspecto bem mais agradável.

Bem-haja, amiga!

anamar disse...

Olá!
Obrigada pelas suas visitas e palavras...
Este seu trabalho está admirável e deixo-lhe aqui uma dica para o continuar. Eu ia publicá-lo mas acho que lhe fica bem na continuação do levantamento da arte de GRFITTI!
Procure no google e nas imagens,o artisata brasileiro STEPHAN DOITSCHINOFF, "mão dupla" muro de 10 metros pintado na cidade de Lençois na Baía... e todo o conceito que o levou a querer pintar uma aldeia...
Aproveite...
Bj
Ana

Riscos e Rabiscos disse...

anamar:

Fui espreitar STEPHAN DOITSCHINOFF e de facto é muitíssimo interessante. Quero agradecer-lhe bastante a sua sugestão, e acima de tudo o facto de me "dar a primazia". Mas esteja completamente à vontade e publique o SD. Para além de ser um tema que se enquadra muitíssimo bem no contexto do seu blog, eu já tenho 'alinhavados' posts para inserir.
Mais uma vez o meu grande obrigada pela gentileza em disponibilizar-me matéria (fica a dever-me uma! ;-)

Riscos e Rabiscos disse...

Isamar:

Os "rabiscos / pseudónimos" chamam-se tags na gíria do graffiti :-) Esta expressão artística é de facto oriunda de bairros pobres de NY, e chegou a Portugal cerca de 20 anos mais tarde, daí ter observado características idênticas dos writers (graffiters) algarvios.
(estou a fazer revisões da matéria ;-)

Num outro post vou fazer referência a estes "palavrões" que agora escrevi. E mais não digo... ;-)
Muito obrigada pela sua visita e por colaborar comigo no enriquecimento/dinamização deste espaço :-)