Susan Phillips, investigadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles, define o graffiti como uma transmissão de mensagens de carácter "secreto" ou "oculto" - dirigidas a uma comunidade já familiarizada com os seus códigos e símbolos estéticos próprios - e considera-o uma forma de arte pelo facto de possuir cargas simbólicas e formas estéticas baseadas num código de grupo que ultrapassam temporalmente a existência do próprio grupo ou dos indivíduos a ele ligados. Nesse sentido também, o graffiti não deve ser entendido isoladamente mas sim como parte integrante de uma cultura de rua mais vasta que inclui música - 'hip-hop' e 'rap' - e dança - 'breakdance'.
Fachada decorada com Graffiti em Olinda, Pernambuco.
Ainda de acordo com a investigadora, o graffiti é uma arte culturalmente cruzada que pode dar origem a três géneros de expressão: o graffiti político e social, que se pode combinar com outras formas de expressão gráficas como murais ou mostras de arte, representando o trabalho de indivíduos ou grupos políticos contestatários; o graffiti dos "gangs", utilizado por estes grupos de rua como marcas territoriais nas áreas urbanas, associadas a outras formas acessórias de arte como tatuagens ou estilos de roupa que identificam "práticas sociais e económicas ilegítimas" que vão além do graffiti propriamente dito; e finalmente o género de graffiti mais difundido: o chamado "estilo Nova York", ou "Hip-Hop" (termo que deriva do género musical), que se espalhou pelas cidades norte-americanas e pelo resto do mundo, sobretudo na europa, a partir dos anos 70.
Não se sabe exactamente quando o graffiti contemporâneo se tornou uma arte no sentido estrito do termo. Talvez a partir do momento em que transpôs as ruas e passou a poder ser apreciado nas galerias de arte ou em colecções particulares, mas o facto é que teve origem e se desenvolveu nas zonas degradadas da cidade de Nova York. No início eram apenas assinaturas ('tags') feitas em locais públicos com boa visibilidade, prática que originou o termo 'Writer' - não literalmente escritor, mas mais qualquer coisa como rabiscador. Exemplo: "Taki 183", pseudónimo de um nova iorquino de ascendência grega que se notabilizou por ter sido o primeiro a espalhar de forma sistemática o seu 'tag' pelo espaço urbano, chegou inclusivamente a ser entrevistado por jornais como o "New York Times".
A partir dessa altura o movimento não parou e deu origem a formas aperfeiçoadas de 'tags', que foram evoluindo para formatos maiores, trabalhados em várias cores, até se chegar às autênticas telas ('pieces' - termo abreviado que deriva da palavra "masterpiece", ou obra de arte) de rua que se podem apreciar em várias cidades do mundo. Algumas delas podem ser vistas em sites como www.artcrimes.com, onde se percebe porque razão o grafitti, como argumenta Susan Phillips, pode ser entendido como uma forma de arte.
E por último, deixo-vos ss imagens em baixo tiradas em S. João do Estoril, numa rua sem saída, um beco perpendicular à linha de combóio. Tal como disse no post anterior, convenhamos que uma ruela aparentemente sem graça, beneficiou desta intervenção de rua!
8 comentários:
Gostei de ter lido o texto sobre esta forma de arte contemporânea. Há , de facto, grafittis de grande qualidade mas muitos outros não passam de poluição visual. No caso da última imagem, o painel do fundo do beco tê-lo-á melhorado mas o mesmo não digo da parede do lado esquerdo nem do contentor do lixo.
Um abraço
Bem-haja!
Isamar:
Tem toda a razão, as pinceladas no contentor e na Parede são poluição visual! Não sabemos é se foram os mesmos graffiters que os pintalgaram.
Voltarei com mais um pouquinho deste tema, conto vê-la por cá.
Obrigada pela visita
Belo trabalho de pesquisa e informação sobre a arte do GRAFFITI.
Há verdadeiras obras de arte cosoante o contexto... sobre uma outra forma ,desordenada e vandala é como diz Isamar, uma verdadeira poluição...
E veio-me à memória Diego Rivera eos seus murais!
beijoca
Ana
uUma pesquisa profunda e muito informativa.As imagens tb são muito boas. Obrigado pela partilha. Recebeu o email que lhe enviei?
Obg
anamar:
Concordo consigo, também quanto a Diego. Subia aos andaimes, e lá se punha ele, vestindo enormes paredes de cor e sonhos, já que o pesadelo de vida da Frida era demasiado real.
Até e obrigada pela visita
Iscte 72-77:
As imagens ajudam bastante como complemento do texto, ainda por cima tratando-se de pintura, impunha-se...(sim, recebi e respondi)
Até 2ªF!Beijinhos
É sempre bom tomarmos conhecimento com um tema que, ou não conhecemos ou conhecemos mal.E este espaço é um bom meio de divulgação.Em minha opinião, aquele beco feio do Estoril ficou menos feio.Todas as imagens são muito interessantes
helia:
Muitíssimo obrigada pelo comentário motivador, cheiinho de positivismo! E claro, fico contente por colocar aqui posts que nos enriquecem o conhecimento.
Bom final de tarde para si :-)
Enviar um comentário