Para finalizar este “ciclo” sobre Graffitis, impõe-se o vocabulário específico desta forma de arte, bem como uma sinopse da mesma: o graffiti é essencialmente uma mensagem mural pictórica. O movimento hip-hop é, nos seus primórdios, uma verdadeira expressão cultural de jovens que usam o espaço público para compor, através do graffiti, rap e break-dance, modalidades criativas de comunicação em grupo. A street culture pode, então, ser entendida como uma cultura que nasce e se expressa no espaço público, produzida na rua entre aqueles que vivem e comunicam na rua.
Segundo Ana Tauste, o graffiti não constitui um "falar de algo (para alguém)"; mais que a necessidade de comunicar, corresponde ao desejo de "deixar-se ver" (getting up) ou, melhor, "fazer-se ver". Assim sendo, o graffiti surge como uma forma de dizer "Eu existo!", num grito de busca e recuperação da identidade face ao anonimato e ao amontoamento humano que uma cidade comporta. Para além da envolvente sóciocultural que caracteriza o graffiti aqui abordado, podemos salientar uma característica material que o distingue dos restantes tipos de representação gráfica sobre as paredes, como por exemplo, os murais políticos: a utilização de tinta em spray: «el spray es, en efecto, el instrumento associado a este modelo» (Garí). O que confere ao tipo de traço e à textura das cores um aspecto único e facilmente identificável (ou, “o algodão não engana” ;-)
Quanto aos conteúdos que constituem os graffiti, eles são extremamente variados mas, a representação das letras assume um lugar de destaque nesta actividade: realizados com letras pintadas a cheio ou com traços simples, assinaturas estilizadas, ou mesmo, quando se desenvolvem fundos elaborados e enriquecimentos estéticos de vária ordem (bonecos, paisagens, etc), o habitual é que tal aconteça em torno de um nome – o tag. Desta forma, «la firma, naturalmente, (...) es "la imagem principal"» (Garí), acabando por ser a expressão do eu, símbolo da personalidade do graffiter.
É ainda possível dividir o graffiti em dois tipos: o bombing e o hall of fame. De forma resumida, podemos definir o primeiro como uma peça de rápida execução; o segundo como um tipo de graffiti no qual o graffiter desenvolve as suas técnicas, trabalhando o estilo pessoal com mais tempo. Poder-se-á afirmar que este segundo tipo é aquele em que a preocupação estética surge com toda a sua força.
O graffiti é, portanto, uma representação individual, uma representação grupal, com público indistinto e urbano, no espaço público acessível visualmente, uma produção intensa e extensiva no tempo e no espaço.
E agora vamos ao Léxico de ‘A’ a ‘Z’:
Bebs: O mesmo que caracthers.
Bite: Dar bites, imitar o estilo de desenho de outro graffiter ou imitar letras de músicas ou formas de cantar.
Bomber: Graffiter que pratica bombing.
Bombing: Graffitis que se realizam rapidamente, sendo normalmente pouco adornados e com letras menos elaboradas do que as de um color piece.
Break Dance: Dança própria da cultura hip-hop.
Caps: Válvulas que se colocam na saída das latas de spay de tinta. Os diversos tipos de caps existentes adaptam-se ao tipo do traço desejado.
Caracthers: Bonecos que adornam ou compõem os graffitis. O mesmo que bebs.
Color Piece ou Piece: Graffiti a cores cujo trabalho é bastante cuidado, onde normalmente existem fundos trabalhados, letras bastante elaboradas e adornados com caracthers. O mesmo que piece.
Crew ou cru: Conjunto de graffiters que habitualmente pintam juntos. Existindo nestes casos uma assinatura ou sigla que identifica esse mesmo colectivo.
Cross: Resultado do acto de pintar algo (traço, assinatura ou desenho) sobre trabalho alheio.
Detonado: Diz-se quando um local ou parede está cheio de bombing.
Fame wall: O mesmo que wall of fame.
Graff: O mesmo que graffiti. Abreviatura da palavra graffiti.
Graffiti: Arte visual(ou plástica) da cultura hip hop. O mesmo que writing.
Hip Hop: Cultura urbana específica composta pelo graffiti, rap Dj e break dance.
Hot: Diz-se de uma parede ou zona repleta de graffitis.
Jam: Encontro de writers onde estes mostram os seus skills, cobrindo várias superfícies com as pinturas, por vezes em ambiente de competição directa, e onde é vulgar decorrerem simultaneamente actividades relacionadas com as restantes componentes do hip hop.
King: Graffiter experiente, com muita técnica e bastantes trabalhos realizados. O contrário de toy.
Latas: Latas de tinta em spray, utilizados para fazes graffitis.
Legalizar a Parede: Pintar o primeiro graffiti numa parede na qual os trabalhos dos graffiters passam a ser tolerados.
Outline: Contorno das letras desenhadas.
Piece: O mesmo que color piece.
Piece Book: Caderno de projectos e esboços de graffitis.
Props: Parabéns ou felicitações enviadas na parede a graffiters ou crews, por amizade ou porque a qualidade dos trabalhos realizados por aqueles o merece.
Queimar Spots: Cobrir uma parede ou uma zona com trabalhos de pouca qualidade estética.
Rap: Música própria da cultura hip hop.
Representar: Tornar a cultura graffiti o mais visível possível.
Roof Top: Pintura realizada numa zona significativamente alta de um edifício.
Sell Out: Termo que identifica a actividade do graffiter, quando este trabalho a troco de dinheiro ou latas de tinta.
Silver Piece ou Silver: Graffiti normalmente composto apenas pelo tag do seu autor, realizado com letras compostas por um contorno -outline- e cheias a tinta cor de alumínio. O mesmo que silver.
Skills: Conjunto de técnicas dominadas por um graffiter.
Tag: Assinatura que identifica o autor do graffiti.
Tagar: Escrever o tag com letras desenhadas com uma só linha de tinta.
Toy Graffiter: inexperiente, sem uma considerável quantidade de trabalhos realizados e com técnica inferior aos graffiters mais experientes. O contrário de king.
Trought Up: Termo que caracteriza a actividade do graffiter quando este se limita a tagar as paredes.
Wall of Fame : muro grande pintado com uma sequência relativamente longa de color pieces. O mesmo que fame wall.
Wild Style: Escrita utilizada no graffiti caracterizada por forte estilização das letras, tornando pouco acessível a sua compreensão.
Writer: o mesmo que graffiter.
Writing: O mesmo que graffiti.
- Está a apetecer-me pôr o ‘léxico’ do Graffiti em prática para ‘ensaiar’ este novo dialecto (para mim). Vou construir uma frase sem qualquer preocupação linguística, apenas utilizar a gíria da Grafitagem:
Está um graff fame wall naquele Spot que em nada tem a ver com o Bombing que fizeram nos contentores daquela ruela de S. João (que a tag da riscos e rabiscos fotografou). Deixaram os contentores Detonados. O meu primo fez o tag dele tipo Throw-up com Bubble Style num ápice! Difícil é fazer um wild style 3 D Roof-top ! Para não falar do Backjump e todo Whole Train!! Usei uma Skinny Cap com a minha Crew, no Cross, por cima doutro Tag com um Fill-In encarnado e com um Highline preto! O King até disse que estava fixe, para quem é Toy como eu, que só faço Bites do Writer King que pintou estes spots todos com altos bebs, um grande color piece! Aquela wall ficou hot!
;-)
Tradução:
Está um graffiti colectivo bastante elaborado naquele lugar que em nada tem a ver com os riscos ilegais que fizeram nos contentores daquela ruela de S. João. O meu primo fez a assinatura dele tipo contornos sem preenchimento com letras arredondadas num ápice! Difícil é fazer um Estilo de letras quase ilegível tridimensional no topo do edifício! Para não falar do combóio pintado em circulação de cima a baixo e duma ponta da carruagem à outra !! Usei uma cápsula fina da lata de spray com a malta, por cima doutro graffiti com um Preenchimento do Interior das Letras em encarnado e com um Contorno geral de todo o graffiti, posterior ao outline, em preto! O Mestre até disse que estava fixe, para quem é inexperiente como eu, que só faço cópias do Graffiter Mestre que pintou estes lugares todos com altos bonecos, um grande trabalho muito elaborado! Aquela parede ficou repleta de Graffitis!
Difícil e bastante mais densa esta tradução! 11 Linhas versus 8… será que podemos concluir que os Writwers são apologiastas da economia de palavras, para rentabilizarem o seu tempo em colors pieces??! ;-)
E agora lanço um repto ;-) façam um comentário aqui neste piece book. Pode até ser um cross, sem preocupações de color piece, já que este post está algo detonado (mas não hot, creio). Espero receber alguns props! ;-) E agora vou Tagar assumindo que nem Trought Up sou!
8 comentários:
Bom e exaustivo trabalho....
abracinho
Ana
É verdade.... ufffff
Bom fim de semana
anamar:
Então e o meu desafio?? ;-) veja lá no final do post
Um excelente trabalho que fecha com chave de ouro. Quanto ao repto não sei responder embora tenha recorrido ao léxico.
Bem-haja!
Isamar:
Muito obrigada pela chave :-)
Penso que os 4 posts sobre Graffiti nos acrescentaram algo a todos nós, sendo assim suficiente este tema. Também não quero ser demasiado exaustiva, que até será contra producente num blog.
Agora vamo-nos divertir com os Simpsons :-))
Olá!
É sempre bom ver que me visitou... e gosto muto dos seus "commments" sempre a propósito!
Quanto ao video de MV, ele comigo e com outros funciona. experimente nos videos do youtube...
Beijoca e boa semana
ana
anamar:
Para mim visitar e acompanhar um blog, pressupõe a mesma gentileza que temos quando entramos na casa / espaço de alguém, e a mesma atitude dialogante que desenvolvemos na interacção com as pessoas. Há outra forma de manter canais de comunicação com quem nos rodeia?
:-)
Obrigada pela visita e retribuo os votos de boa semana!
Muito bom e esclarecedor post. Estou a ler O Francoatirador Paciente, do Arturo Pérez-Reverte e o léxico foi muito útil. Obrigada!
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