29.11.08

Vieira da Silva


Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa em 1908 e faleceu em Paris em 1992. Naturalizou-se francesa em 1956. Neta do fundador do jornal "O Século", desde cedo se interessou pelas artes. Aos onze anos começou a estudar pintura e desenho na Academia de Belas Artes de Lisboa. Vieira da Silva foi autora de uma série de ilustrações para crianças, executando uma série de guaches. Em sua memória e de seu marido, também pintor, foi fundada em Lisboa a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.




«TESTAMENTO»

de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Eu lego aos meus amigos

Um azul cerúleo para voar alto.
Um azul cobalto para a felicidade.
Um azul ultramarino para estimular o espírito.
Um vermelhão para o sangue circular alegremente.
Um verde musgo para apaziguar os nervos.
Um amarelo ouro: riqueza.
Um violeta cobalto para o sonho.
Um garança para deixar ouvir o violoncelo.
Um amarelo barife: ficção científica e brilho; resplendor.
Um ocre amarelo para aceitar a terra.
Um verde veronese para a memória da primavera.
Um anil para poder afinar o espírito com a tempestade.
Um laranja para exercitar a visão de um limoeiro ao longe.
Um amarelo limão para o encanto.
Um branco puro: pureza.
Terra de siena natural: a transmutação do ouro.
Um preto sumptuoso para ver Ticiano.
Um terra de sombra natural para aceitar melhor a melancolia negra.
Um terra de siena queimada para o sentimento de duração.


(texto encontrado nos papéis de M Helena Vieira da Silva após a sua morte,
onde nos transmite 'a convicção de que as cores, simples matéria pigmentada, contêm afinal todo o arco-iris de que a vida é composta')

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