27.3.09

Análise sociológica do Graffiti

Ricardo Campos, sociólogo, refere que “….Para muitos o graffiti é uma arte. Para outros é puro vandalismo”. Independentemente da forma como o entendemos, podemos certamente afirmar que o graffiti constitui uma cultura, típica dos tempos contemporâneos. Ou seja, para além das expressões visuais que aprendemos a reconhecer como graffiti, existe um modo de vida que não se pode dissociar desta prática expressiva.

O graffiti é uma cultura pelo facto de possuir um sentido de comunidade, uma identidade, uma linguagem, regras e padrões de comportamento que são fundados internamente e conhecidos por todos os que se identificam com a comunidade. Aqueles que fazem graffiti não o fazem no vazio, compreendem o vocabulário cultural, conhecem os instrumentos e as regras de quem pinta na cidade. Intitulam-se writers, possuem um tag e agrupam-se em crews, com o intuito de pintar. O tag é a identidade cultural dos writers, é a forma como gostam de ser reconhecidos na comunidade a que pertencem. Esta é, então, uma cultura que é cultivada há gerações por writers originários dos mais diversos pontos do planeta, que individualmente ou em crew, pintam nas suas cidades, divulgam os seus trabalhos e definem as orientações do movimento.
A prática do graffiti não é realizada ao acaso ou de forma caótica. Existem regras que permitem estruturar a comunidade e as suas formas de agir. As regras, aceites de forma relativamente consensual, enunciam os critérios de avaliação das obras e do estilo, o valor dos diferentes spots ou os territórios de acção. Apesar das alterações que se registaram ao longo das últimas décadas, no interior desta cultura, algumas normas e procedimentos mantêm-se praticamente inalterados, sendo transmitidos de geração em geração. Assim, existe uma ética interna, respeitada pela grande maioria dos writers, que define como e onde pintar. É relativamente consensual a ideia que de existem locais proibidos (como sejam os monumentos) ou que a obra de outro writer não deve ser crossada, excepto em situações muito particulares. Pertencer à comunidade writer passa, então, por aceitar as regras implícitas do movimento. Estas regras são apreendidas com o tempo, geralmente pelo contacto com writers mais experientes que cumprem uma função fundamental, na transmissão dos valores, das normas e na preservação da sua história.
Esta é uma cultura formada por diferentes modos de viver que correspondem, igualmente, a distintas formas de expressão. Todavia, assumindo a fronteira da legalidade como elemento fundamental para a definição desta cultura, podemos, de forma elementar, distinguir o graffiti ilegal ou bombing, do graffiti de natureza legal. Cada uma destas vertentes comporta diferentes regras, modos de acção, linguagens e simbologia.
O graffiti representa uma cultura e tem já uma história que apesar de breve, é marcante. Este é, inegavelmente, um fenómeno urbano de relevância incontornável nas últimas décadas do século XX. O património acumulado e preservado, é composto por nomes lendários, como TAKI183… por estilos únicos, como o Wildstyle, Bubble style, 3D e por obras inesquecíveis. É obrigatório conhecer as carruagens e metros pintados, nos primórdios do graffiti Nova Iorquino, determinantes para o futuro desta expressão visual.
Também em Portugal o graffiti tem uma história, que é relembrada por muitos que conheceram os pioneiros e asseguram a sua memória. Surgido vinte anos após o nascimento deste fenómeno nos EUA, o graffiti português desponta nos anos 90 do século XX, na área da Grande Lisboa. Nomes lendários do panorama português, faziam as primeiras explorações do graffiti na parede, dando a conhecer uma forma de expressão visual que até então era desconhecida da maioria. O magnífico mural das Amoreiras é, de certa forma, o símbolo do graffiti de Lisboa, com pinturas de alguns dos pioneiros desta arte.

Uma observação atenta do graffiti indica-nos, que esta é uma prática basicamente citadina, participa da dinâmica cultural do meio urbano. O lugar do graffiti é, por excelência, o espaço público urbano.  As origens mais remotas deste movimento cultural situam-se no movimento hip-hop, dinâmica cultural nascida nos espaços da pobreza e exclusão da cidade de Nova Iorque, há mais de trinta anos.


A ilegalidade, assumida como uma dimensão fulcral, é vivida com intensidade, uma espécie de jogo que não comporta consequências graves para os menores de idade. O crescimento, com o acumular de novas responsabilidades, como sejam a família e o trabalho, impõe novos cuidados a quem se move no meandros do graffiti ilegal. Daí que seja muito comum, os writers irem gradualmente abandonando a actividade, à medida que se aproximam das fronteiras do mundo adulto. Os mais antigos, optam, muitas vezes, pelo graffiti de natureza legal, escapando, desta forma, aos eventuais problemas judiciais, sempre presentes na prática do bombing.
Deste modo, ultrapassar a fronteira que separa o mundo jovem do mundo adulto determina, na grande maioria dos casos, o abandono ou a reconversão da actividade. A renovação de gerações é, deste modo, um facto e um princípio cultural, na medida em que gera dinamismo, acentua a competição e promove a mudança. Assim se compreende a rapidez com que surgem novas propostas estéticas, num meio que vive essencialmente da criatividade dos mais jovens e da sua capacidade para inovar.

(Pesquisa efectuada na internet em sites alusivos à temática)

6 comentários:

MamaNunes disse...

Ola querida! Sei que não é fácil lidar com html :o)
Se quer ajuda para mudar o background, pode pedir. Mande-me um email: mamanunes@gmail.com
eu te ajudo!
às vezes é só um pontinho e o "negócio" não funciona...
beijos

MamaNunes disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Riscos e Rabiscos disse...

MamaNunes:

Obrigada, muito obrigada! Vou tentar por mim própria chegar lá, caso não consiga, já sei o que fazer :-)
Bom fim de semana!

Riscos e Rabiscos disse...

MamaNunes:

Removi a mensagem pois estava repetida, era absolutamente igualzinha (algum lapso, normal)

Mare Liberum disse...

Gostei muito desta análise sociológica do grafitti e sei que muitos "writters" abandonam esta prática com a chegada da maioridade mas outros, poucos,conseguiram enquadrar-se no "grafitti legal".

Bem-haja, minha amiga, pelo serviço público que tem proporcionado. Quanto a mim, saio sempre mais rica do que quando chego.

Tenha um bom domingo!

Riscos e Rabiscos disse...

Isamar:

É já com um sentimento muito agradável de bem estar que leio todos os seus comentários, sempre incentivadores, atentos aos posts que coloco, e que enriquecem o meu blog. Também fico muito satisfeita por lhe / nos crescentar algo, é sem dúvida um sentimento gratificante. A sua visita é sempre uma mais valia, pelo que muito agradeço os feedbacks que proporciona a mim e ao blog :-)

Bom final de tarde de domingo e excelente semana!